
LEILA MADEIRO
Ouço risos histéricos que congelam os dentes,
doentes,
numa noite fria aquecida por um gole de vinho tinto que não seca...
O copo acabou de quebrar! Cacos de vidro,
coração perdido...
Levado por um deus bandido que me faz delirar num gozo tido no sonho que me sufoca e afoga a angústia do acordar em lembranças de respostas escondidas...
...Escondidas por um garoto atrevido
que me acerta como um alvo fácil em plena luz do dia.
Corpos em movimento suados de prazer...
Mais um delírio, um desejo...
Uma buzina que toca, eu me assusto!
O carro passa sem direção, atropela o vento,
na esquina,
numa velocidade incontrolável. Onde em um boteco qualquer... as risadas... dadas...
...não fazem sentido...
Arrisco!
Disco!
E digo Alô!
Que eu seja
Se pensarem que sou louca, que me levem, leve, em uma camisa de força. Que eu beba do vinho de teu sangue e que a forca seja meu altar.
Que se dilate meu cérebro...
Que eu reze, sem força, sem me machucar.
Que o tempo espere eu passar caminhando, lento, ao relento, acreditando que a vida vai mudar! Que o tempo espere...
Que eu cresça e floresça em frutos que só os... poetas sabem falar. “A poesia soa como música em meus ouvidos, distraídos...”
Sentidos!
Rezo. E peço que minhas mãos dancem num movimento contra o tempo que tem pressa, dispersa.
Que meus olhos brilhem ao ver as belezas sem mesas...
... que eu brinque.
Que eu deseje.
Que eu seja louca por acreditar e esperar o tempo ir...
Que eu diminua o passo... que se vá passo a passo. “Sem essa de acelerar.”
Que eu descanse, me espreguice pra amanhã continuar...
E se ainda assim, pensarem que sou louca, que me levem, leve, em uma camisa de força, mas... bEm DeVaGaR.
RIO DE JANEIRO, Cidade Maravilhosa.
CIDADE DE DEUS e de TODOS OS SANTOS:
SÃO FRANCISCO XAVIER,
PADRE MIGUEL, SANTO CRISTO,
VIGÁRIO GERAL, SANTA TEREZA,
BENTO RIBEIRO e SÃO CONRADO.
SANTÍSSIMO Cristo Redentor
vamos à RIBEIRA beber da ÁGUA SANTA,
nadar com JACARÉ e JACAREZINHO...
e debaixo das PITANGUEIRAS
colher CAJU, GARDÊNIA AZUL e RAMOS de GLÓRIA.
Vamos à GAMBOA do RIO COMPRIDO,
do BAIRRO IMPERIAL DE SÃO CRISTOVÃO,
ver o JARDIM BOTÂNICO e o JARDIM CARIOCA.
E no ALTO DA BOA VISTA
apreciar as LARANJEIRAS
no CENTRO de uma CIDADE NOVA chamada
RIO DE JANEIRO.
Vamos observar a MARÉ subir na PRAIA DA BANDEIRA,
velejar no GALEÃO...
seguir o LEME atrás do MARACANÃ ENCANTADO
que bebe d´água do TANQUE da PRAÇA SECA.
Nas margens da LAGOA
descansar à sombra da MANGUEIRA,
bater papo com OSWALDO CRUZ,
VASCO DA GAMA e ANCHIETA.
No CAMPINHO do COLÉGIO, na CIDADE UNIVERSITÁRIA,
brincar na hora do RECREIO DOS BANDEIRANTES...
subir a PEDRA DE GUARATIBA
e apreciar a VISTA ALEGRE das VARGENS
PEQUENA e GRANDE.
Orar pra MARIA DA GRAÇA ajoelhado ao pé da SANTA CRUZ...
Pedir PACIÊNCIA para a ABOLIÇÃO de ZUMBI,
BANGU e GERICINÓ...
que na FREGUESIA DE JACAREPAGUÁ,
no meio da VILA MILITAR,
clamam PIEDADE pro SENADOR CAMARÁ.
Vamos correr no CAMPO GRANDE cheio de MANGUINHOS,
pisar na lama e dormir na LAPA.
Dançar CATUMBI até cansar...
depois recuperar a SAÚDE para arrancar a CASCADURA da TAQUARA,
que como REALENGO, ofereço ao COSMO
e agradeço por estar aqui!
Vamos comer Pão de Açúcar
e depois subir a ROCHA na BARRA DA TIJUCA...
avistar de GRUMARI até o JOÁ.
ANDARAÍ na PAVUNA da cor do ANIL,
colher frutos da ROCINHA
e transformar a GÁVEA em PILARES de fé
para acalentar os corações desse povo
do RIO DE JANEIRO.
Eu te amo desatento
Eu te amo ao relento
Eu te amo no banho
Eu te amo no sonho
Eu te amo carente
Eu te amo contente...
Eu te amo.
Do seu amor.
A poesia dos meus sonhos mente, desmente,
demente.
A hélice que gira, gIrA, giRAA, GIRAAA...
tritura meus neurônios com cortes profundos mergulhados no desejo de prazer.
Como um mecanismo que amassa latas, comprime meu estomago até provocar o vômito num gozo tido do último gole de cachaça.
A vaca que dá o leite de cada dia, seca. E o tempo continua caminhando, num passo e pára.
A borboleta vive muito pouco tempo.
E os meus neurônios continuam morrendo.
Estico a mão pouco a pouco e consigo alcançar um copo com água. Sacio a sede, quero mais!
O tempo continua caminhando lento ao relento.
A poesia dispara num lamento que perdura por muito tempo.
E o tempo?
Quando percebemos seus passos lentos... já passou, como um ônibus que não pára no ponto.
É o nosso tempo ou não temos mais tempo.
Escorrego
me esquivo
sorrio
arrisco
divago
petisco
sorrio
me apego
te pego
distraio
não falo
sorrio
me esfrego
insisto
sorrio
disfarço
não desisto
aqueço
confio
não paro
preparo
sorrio
absorvo
estabeleço
encaro
escrevo
escrevo
escrevo
disparo
sorrio
adormeço
te abraço
levo
leve
lento
volvo
dissolvo
preparo
pareço
sorrio
atravesso
respiro
peço
sorrio
continuo...
sorrio
Bottinha
Botta, desbotta.
E vem e vai e volta como uma linha que dá nó na botta torta que botta sem botta.
Passo, passo, passo...
Toque, toque, toque. Se toque, me toque... desbotte.
Pisssssss! Ouça!
“É o som do Bottinha!”
Dança, agita, canta, rebola, si bola e botta...
Batta na porta antes de entrar e ao sair, não esqueça de trancar.
Batta uma bola e brinque com a botta torta que acabou de quebrar.
Pensamentos incoerentes e palavras inconseqüentes. Olha! O Botto em alto mar. Ele acabou de mergulhar. É rosa! Rosa como a rosa que te dou...
Ih! Pirei!
Que nada, é poesia!
Troque o salto da botta e volte a dançar.
Botta a botta e batta palmas pro Bottinha que acabou de chegar.
Botte a rosa dentro do pote, op’s, quero dizer, botte e vá mergulhar num mar de palavras sem nexo que só a paixão pelo Botto Rosa que botta a botta torta consegue explicar...
O que deformA
Também cria formA
E se formA
DisformE
Sem nexO
Em sua razãO
De seR
O que se É
E não É...
...
pENSo
nA BELEZa
...
dE uMa FoRmA
SeM fOrMa
qUe ViAjA
...
Pelo universO
Da criaçãO
De uM
CoraçãO
Ponto.
Não digo o que meus lábios não podem pronunciar
imobilizados pelo tremor de uma paixão inexistente.
Mas...
latente.
Num inconsciente que se afunda
e se deixa levar pelo movimento
de um tempo qualquer.
Ah! O tempo!?!
O tempo que traz, no bolso da calça,
um papel rasgado e manchado
onde não se pode ler o que estava escrito.
“- Talvez um nome sem rosto ou um número de telefone...”
Manchas de uma bebida qualquer que embriagam a ilusão de uma fotografia amassada pelo tempo.
Por um tempo perdido em palavras não pronunciadas
e
achadas nas atitudes insanas.
Ponto!
Permaneço com a pureza das lembranças acolhidas no calor de um abraço ao corpo desconhecido.
Sufoco toda a minha angustia diária
e utilitária
numa compressão enlatada de um dia que se foi.
Deixo ir os medos,
as neuroses,
os problemas,
as manias,
os tormentos,
as molas,
as porcas,
os parafusos
confusos...
E no desenrolar da noite me abraço no mesmo corpo estranho...
Mais uma vez,
em meio aos sonhos deduzo que me deixo levar.
Levar pelo balanço inconsciente de uma gargalhada dada nas horas felizes que permanecem no entrar de um novo dia.
sem nada
sem fala
sem pedir e
sem se despedir.
Agora
tranqüilo
quieto
silêncio.
Feliz
porque
quis.
Sigo atenta, veloz e voraz
respiro ofegante
inalo teu perfume nas
Lembranças santas que me levam pelo tempo
Esqueço todos os tormentos
Arrisco com o vento
Navego nos teus olhos
Desperto meus sentidos
Reviro pelo avesso... não te esqueço.
O ontem e hoje
se confundem na embriagues
de um coração que segue o ritmo
do corpo do outro
lapidado numa escultura viva
que se faz presente
no pensamento
levado pela água corrente
que limpa e purifica
o cansaço da rotina
esquecida no banco do carro estacionado na garagem
de um Motel.
Um fato!
Um ato!
A risada dada se prolonga numa gargalhada
através das horas que trabalham as obras vivas.
Os corpos confusos (e lapidados) se entrelaçam no ar
em um ritmo acelerado do gozo místico
que assombra a noite negra
e soa como música.
O “vinagre”,
como um cauim,
deixa tonto o ébrio que tropeça num “passo”
da dança
do ritual
mágico
que atiça os sentidos.
Balança!...
Balança com as ondas de um mar revolto que se estende
pela areia até o asfalto quente;
inflama com o fogo que se alastra na fúria do desejo
de movimento...
E como um furacão...
atordoa.
Po
Poe
Poesi
Poesia
PoEsiA
pOESIa
POESIA
Quero escrever-te
poesia
Poe... Poe...
Poesia.
Poesia.
Que mexa com meus sentidos,
que sopre nos meus ouvidos.
Que mexa contigo!
Que fique no tempo,
que rabisque com o vento
que leva e traz lembranças...
Santas!
Salamandras soltas pela noite nas horas lentas,
tantas outras que se vão.
Poesia que passa ao lado do poste que se foi
numa imagem na janela que corre.
Movimento de 15 graus dados ao ébrio na noite da poesia solta,
Voada.
Solta poesia.
Pipa.
Poesia.
Eu me canso
as horas descansam
eu continuo
as horas param
e eu não durmo...
...
...
...
Escrevo-te palavras...
palavras bacanas
palavras insanas
palavras sacanas
palavras urbanas.
Escrevo-te palavras bonitas
palavras bem ditas
palavras usadas
e bem passadas.
Palavras cantadas
palavras erradas
palavras pensadas
palavras assadas
novas palavras!
Palavras sentidas
palavras nunca ditas
somente...
palavras!
Palavras quentes, queimadas
palavras carentes, dementes
Palavras que vem e vão nas frases soltas.
Palavras atrevidas
palavras queridas
desejadas palavras.
Escrevo-te palavras sem sentido
palavras coerentes
palavras de um dia qualquer
palavras de todos os dias
doces palavras compreendidas
palavras doces incompreendidas
somente...
PA
LA
VRAS.
Acordo com uma angústia que deforma
meus pensamentos.
Respiro consciente
e minha consciência se esvazia numa tristeza mórbida,
sem razão.
(Séria de mais!)
(Você pensa de mais!)
Reflexões sem sentido
esgotam o corpo físico
num cansaço repentino,
Vadio!
Sorrio!
Vadio!
E o espaço... se consome
“Me come.”
Tô cum sono.
“Me esquece.”
Tô cum fome.
Que horas são?
Sorrio.
Vadio.
Sorrio.
Um passo dado em direção a loucura
suporta a dor causada pelo peso dos pensamentos.
“Que tormento!”
As mãos num movimento
continuo
não deixam o corpo padecer num paraíso,
vazio.
Meus olhos inchados e casados
de observar as coisas
e ver as pessoas
se deteriorando em um tempo presente...
e ausente.
Poeira... asneira...
no móvel,
na sala.
Se contorce,
se transforma.
RETORNA!